No Brasil, parece
que divergir de qualquer coisa é praticamente um crime. Um exemplo é quando se
trata de Política.
Em primeiro lugar,
há uma confusão entre Política e Partido. A Política é inerente à condição
humana, faz parte de todas as relações que se estabelecem entre as pessoas. Não
é um privilégio dos "políticos profissionais", dentro de um partido
formal e eleitos por voto. Quando cumprimentamos (ou não) um vizinho, um
funcionário do local em que moramos ou trabalhamos, estamos fazendo política.
O Partido é uma das
formas organizadas de se exercer Política. Um grêmio estudantil não é um
partido. Um condomínio não é um partido. Uma passeata não é um partido. Mas
todos são exemplos de organizações, onde políticas são debatidas e
estabelecidas com objetivos, em certa medida, comuns. Então, ser
"apartidário" não é ser apolítico. Importante ressaltar que a diversidade de pensamentos, representada por organizações sociais denominadas partidos, são fundamentais para a manutenção e o desenvolvimento dos valores democráticos em um país.
Outro grande
equívoco é a divisão moral da política em "direita" e
"esquerda". É como se fosse o "bem" contra "mal"
não necessariamente nessa ordem. Cada um
se posiciona no lado que lhe convém considerar ser o do "bem" e detona o outro que passa a ser considerado do "mal". Será que precisa ser assim?
A coisa chegou a tal
ponto que, se você não se posicionar nesses extremos, é capaz de ser
execrado em praça pública e assado na fogueira "adversária". Digo
"adversária" porque a situação é de quem é o melhor na disputa, vira
uma questão passional mesmo. É a
política vista como torcida de futebol: "o meu é melhor que o seu",
"aqui tem corrupto, mas no seu também tem", "O meu rouba, mas
faz". Não importa mais se há ou não coerência entre discurso e prática. A
meu ver, a paixão não é uma boa medida quando se trata de se fazer política. A
ponderação e coerência sim são boas medidas.
Quando o seu time
preferido perde um jogo, perdem apenas o seu time, você e os demais torcedores.
Quando uma política de Estado falha, quando um partido que assume cargos no
poder público e trai os seus compromissos com seus partidários, todos perdem,
independente de serem partidários ou não daquela organização política.
Eu assisti um vídeo
do PC Siqueira que tratava das manifestações populares das últimas semanas de
junho/2013. Numa parte do vídeo, os narradores traçam o perfil da
"Direita" e da "Esquerda" nos moldes das enquetes sobre
"as possibilidades daquele gatinho estar a fim de você". Apresentam
uma ideia e afirmam: "Eu sou de direita" ou "Eu sou de
esquerda". E acrescentam que as suas ideias e crenças é que determinam se você
é de direita ou de esquerda, independente da sua vontade. Pergunto: onde ficam
as minhas práticas nisso tudo? Então, basta se dizer de "direita" ou
de "esquerda" que se define uma posição política? Discurso sem prática, ou melhor, descolado da prática, é uma grande falácia, um embuste.
Devo dizer que,
apesar de concordar com o ideário, classificado pelos narradores como sendo de
"esquerda", não me considero de "esquerda". Até porque há
pontos defendidos (mas não apresentados no vídeo) pelos de "esquerda"
com os quais não encontro afinidade alguma. No entanto, cabe-me apenas
respeitar, mas sem perder as minhas convicções de vista. Acredito no debate das
ideias. Também não tenho pudor algum em mudar de ideia, pois, se eu não tiver a
humildade de refletir sobre os efeitos do meu discurso nas minhas práticas, eu
estarei traindo a mim mesma, o meu ideário. É no confronto das ideias que o
conhecimento se constrói e se transforma. Se os seus argumentos são mais coerentes que os meus, não temerei a reflexão e posso mesmo mudar as minhas convicções. Por isso, não entendo essa
necessidade de enquadrar pessoas nas categorias "esquerda" e
"direita".
É sua forma de fazer
política que te conduz, são as suas práticas que falam por você, e não o seu
enquadramento ideológico.
Voltando à questão
dos partidos, quantos partidos políticos se dizem de "esquerda", mas
se comportam como se de "direita" fossem? O nosso exemplo mais atual
é o PT. Já discuti muito com partidários petistas que mostram toda a sua cega
paixão pelo PT, Lula e a agora pela dona Dilma. "Cegos de paixão" é a
melhor definição, pois não conseguem ver que o sonho virou pesadelo. Quando os
argumentos se esvaem começam a atacar os partidos que antecederam a dinastia
petista como se fosse um alento para a traição que sofreram (ou não).
Afirmo, uma vez
mais, que não me enquadro na "direita" nem na "esquerda",
admiro algumas pessoas que se elegeram para cargos políticos por serem coerentes e defenderem agendas coletivas para redução das desigualdades sociais, mas não estou
cega para o que elas fazem no exercício dos mandatos. Entendo que corrupto não
tem partido, mas tem ideologia: "Farinha pouca, meu pirão primeiro".
Todos os que roubam o dinheiro público independente de partido ou denominação
ideológica devem ter os bens confiscados e devolvidos aos cofres públicos,
enjaulados e obrigados a trabalhar para seu próprio sustento.
Ano que vem tem
eleição de novo. Pensem muito antes de votar. Não pense somente nos aspectos que
beneficiem você e a sua família, mas pense na melhoria de todo o país. Apesar
do que dizem sobre a redução das desigualdades, ainda existe muita gente sem
acesso aos direitos básicos constitucionais.