sábado, 9 de outubro de 2010

Onde Está o Cinto de Segurança?

Mais uma daquelas que eu pergunto a Deus: Por que não sou surda? Aconteceu em mais uma viagem de táxi. Fico impressionada com o talento de algumas pessoas em dizer coisas sem reflexão, mas sempre com muita convicção(!).

Quando falo dos taxistas, alguns podem achar que estou sendo preconceituosa com a categoria, mas não comento as coisas que ouço com a intenção de desqualificar meramente. Acredito de verdade na autocrítica, procuro exercê-la, o que não consigo entender é porque as pessoas falam coisas bárbaras (que têm a ver com a ignorância mesmo) e não param um segundo para pensar no que estão dizendo. Entendo que, quando não reflito sobre minhas palavras e comportamento, estou sendo preconceituosa. Uma coisa é ter convicção sobre o que é melhor para mim, sem obrigar a quem quer que seja a concordar comigo, outra é estar convicta de que o outro está errado só porque pensa diferente de mim. Procuro exercitar a primeira opção.

Bem, a viagem começa por um motivo que muito me desagrada: problemas no condomínio onde a vida ainda me obriga a viver. Eu estava acompanhada de outra pessoa moradora do mesmo local. Embarcamos e sentamos no banco de trás. Como sempre procurei o cinto de segurança, o que não foi fácil. Apesar de ser obrigatório o uso do cinto de segurança no banco traseiro, alguns motoristas de táxi não deixam o equipamento à mostra.

Ao me ver colocando o cinto, minha colega de viagem tentou colocá-lo também, porém não conseguiu porque o dela estava escondido por trás do banco. Logo desistiu, comentando que não gosta de usar cinto de segurança porque é muito incômodo. O motorista logo emenda e concorda, completando que só usa porque dá multa.

Não resistindo – Deus sabe que eu resisti –, questionei o incômodo no uso, sugerindo que há dispositivos no carro que permitem a regulagem da altura do cinto, evitando o roçar do equipamento no pescoço e a sensação de sufocamento. A colega retrucou dizendo que o carro dela não tem a tal regulagem. Já o colega motorista insiste na obrigatoriedade da multa. Aponto que precisamos entender que o uso do cinto não deveria ser vinculado à multa, mas sim à segurança e proteção. Nosso herói não aceita e “cheio de razão”, traz o problema da violência para a tela: “ah, mas eu tive um colega que morreu afogado porque o cinto não se soltou. Eu mesmo quase morro por causa do cinto no meio de um assalto”.

Insisti que o cinto não vai salvar todas as vidas, mas vai reduzir as consequências das batidas frontais que costumam ser as mais frequentes, causadoras de mortes e sequelas. Tentei descontrair, brincando sobre como ser assaltado, conforme ensinam os especialistas em segurança. E quem disse que ele aceitou? Parece que ficou mais chateado. Fiquei com a sensação de que o cab driver achou que eu inventei o cinto só para chateá-lo. Foi como se eu tivesse dito a ele: “O senhor está errado por não gostar do cinto! O senhor tem que gostar do cinto, porque ele é seu amiguinho! O senhor deve usar o cinto porque eu quero que o senhor use”!

Achando pouco, ele finalizou com a pérola: “Hoje em dia a gente tem que escolher entre pagar a multa ou ser morto pelo assaltante”. Restou-me apenas concordar com ele, acrescentando que na vida fazemos escolhas e essa não deixava de ser uma escolha. Por incrível que pareça, ele concordou.

Caramba, eu não ligo se ele não usa o cinto. Que se dane quem não gosta de usar o cinto!!! Por que não respeitam o meu DIREITO de, ao entrar no carro, achar e usar o cinto de segurança? Por que eu tenho que pensar como os demais que só usam o equipamento porque “dá multa” se não usar? Será que estou sendo egoísta?

Essas questões cotidianas geralmente são ignoradas. Por que seguir as regras? Por que as regras foram criadas? Para que servem as regras? Alguns muitos dirão que as regras servem para serem quebradas. Nossa, quanta criatividade!

Na minha ignorância, entendo as regras como forma de minimizar as arbitrariedades. Imaginem se a Natureza não tivesse regras imutáveis? Imaginem se cada um pudesse fazer o que bem entende? Regras são para serem respeitadas e questionadas quando ferirem os direitos essenciais dos seres humanos. Não é porque as pessoas não concordam com o uso obrigatório do cinto de segurança que deliberadamente vão colocar a minha vida e dos demais em risco. Não é porque as pessoas não concordam com “se beber, não dirija” que podem beber e colocar a vida de todo mundo em perigo. Defendo o direito do quebrador de regras de se matar. Só não acho justo que coloquem o meu direito em 2º plano. Não uso o cinto porque vai ter multa, mas porque concordo com as pesquisas que concluíram de o seu uso minimiza e até evita graves consequências em acidentes de trânsito. Se todos têm direitos, eu também quero o meu de usar o cinto de segurança sem ser vista como uma alienígena.

USEM O CINTO DE SEGURANÇA SEMPRE! E não se esqueçam dos animais também.

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