sábado, 6 de novembro de 2010

Mais Uma de Cinto de Segurança

Parece piada, mas não é. Essa semana, a Vida se superou em testar a minha paciência. Conforme já mencionei anteriormente, ando de táxi desde um “acidente” de trânsito que lesionou gravemente o meu joelho esquerdo (Joe). Dificuldade momentânea causada pela impudência de um infeliz, apressado e incompetente motorista de táxi. E é essa dificuldade que ainda me obriga a andar de táxi com freqüência.

Vínhamos, eu e minha mãe, pela rua procurando um táxi para voltar para casa. Saíamos da clínica onde fazemos hidroterapia. Como de costume e pelo fato de termos nossas dificuldades de mobilidade, aguardávamos que passasse um veículo alto e confortável. Fizemos sinal, o motorista parou e adentramos o veículo. Automaticamente ao entrar no veículo, viajando no banco da frente ou detrás, eu sempre busco o cinto de segurança. Puxei-o para ajustá-lo e, para minha (desagradável) surpresa, o cinto não deslizava facilmente. Ao olhar para o local em que o cinto fica preso na lateral do carro, observei que havia uma amarração, muito bem feita, diga-se de passagem, que me impedia de prendê-lo adequadamente.

Dirigi-me ao motorista, questionando se tinha virado moda prender o cinto daquela forma; eu já havia pegado outros táxis com esse, digamos, dispositivo no cinto de segurança. O motorista indignado começou a reclamar, dizendo que eu não precisava usar o cinto no banco detrás. “– Mas, a senhora não precisa usar cinto no banco detrás”. Retruquei: “– Como não? Talvez outra pessoa não precise, mas sou eu quem está viajando aqui. O cinto não é para ser usado”? Ele responde: “– Não. Só precisa usar cinto no banco da frente”. Insisti, continuando a puxar o cinto: “– Como? Só no banco da frente? Eu pego táxi quase todos os dias, há pelo menos 3 anos, e sempre uso o cinto”. O motorista visivelmente chateado respondeu que estava na praça há mais de 20 anos e que ninguém jamais havia reclamado disso. E como se eu estivesse matando a mãe dele, reage: “– Não faz isso não dona, a senhora vai desarrumar tudo aí e vou ter que arrumar tudo de novo. Se a senhora quer usar, então tudo bem, pode usar”.

Naqueles nanossegundos que se passaram entre a barbaridade ouvida, o processamento cerebral e a tomada de atitude, fiquei com muita raiva do condenado. Para o meu bem e o dele, aproveitei que o carro não havia andado muito e tinha ficado retido no sinal, e decidi descer do carro. Fiquei tão chateada com aquela criatura desorientada, mal informada, abespinhada e sem noção, que não anotei os dados sobre o veículo para denunciá-lo a quem de direito. Agora eu só entro no táxi perguntando se o cinto traseiro está funcionando, pois, caso contrário, não embarco.

Nesses anos de existência, eu ainda não tinha ouvido tanta asneira em tão poucos minutos. Como é possível passar pela cabeça de alguém que o cinto de segurança não pode ser usado? Em outra oportunidade, já havia partilhado uma conversa sobre o uso ou não de cinto de segurança atrelado ao recebimento de multas. Mas dessa vez a coisa se apresentou mais complexa. Não estávamos falando de não gostar de usar o cinto e ser obrigado pelas sanções legais. Estou falando da proibição que o motorista fez a minha vontade de usar o cinto para minha proteção. A que ponto nós chegamos!

Uma coisa é a pessoa, com suas convicções (por mais absurdas que sejam), acreditar que o cinto deve ser usado para não receber multas e não para estar menos vulnerável a sofrer danos causados por uma batida e/ou capotagem. Outra é alguém, deliberadamente, proibir que o passageiro use o cinto de segurança para que uma amarração feita, para comprometer o funcionamento do cinto, seja desmontada.

Na primeira situação, o ignorante apresenta alguma explicação para a sua estupidez. Ele explica que não gosta de usar o cinto, mas o faz pelo fato de correr o risco de ser multado, de sofrer as sanções previstas no Código de Trânsito Nacional. É individual, é só sua. Embora nada justifique abrir mão de uma proteção, que não é infalível, mas é comprovadamente válida em determinadas ocasiões, com essa explicação, o ignorante não te proíbe de fazer o que é seguro e correto. Ele não cerceia o seu direito de decidir se quer ou não usar o cinto.

Na situação que relatei, o ignorante foi muito além. Ele não só acha que é permitido andar sem o cinto no banco detrás e isso não dá multa – por que se ele achasse me obrigaria a usar mesmo que eu não quisesse, só para que ele não sofresse as sanções –, o camarada acha que não é necessário. Por achar que é permitido, que não dá multa e que não é necessário usar o cinto, a criatura me impede e proíbe de usar o equipamento de segurança porque acha que eu estou supostamente desarrumando o seu carro. Isso é ou não é fascinante?

O que importa é o seguinte:

1. Cinto de segurança é para ser usado sim, no banco da frente e no detrás, havendo ou não sanções legais.

2. Em 2010 foi regulamentada a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança no banco detrás. Sendo assim, os incautos ignorantes que se sentem desconfortáveis com o uso do cinto, mas usam por causa da multa, deverão zelar pelo uso do equipamento no banco detrás também.

3. Gostando ou não de usar o cinto, nenhuma pessoa pode proibir ou impedir que outra faça uso do equipamento de segurança.

4. Se para você é ainda é estranho usar o cinto e mais estranho ainda é saber que alguém quer usá-lo, pare um pouco para pensar se você está sendo razoável, procure maiores informações sobre os benefícios do uso e verifique quantas vidas já foram salvas pelo uso adequado desse equipamento.

5. Não devemos fazer as coisas (como, por exemplo, seguir as leis e regras), porque, se não o fizermos, seremos punidos. Devemos Acredito mesmo no valor do pensamento e da reflexão, na avaliação do que está sendo exigido e no entendimento do que é correto a ser feito. Quando entendemos que a norma é válida – tem motivo de existir –, a aceitamos porque temos consciência de que evitaremos prejuízos para nós mesmos e a coletividade, porque estamos contribuindo para um mundo melhor, e mais, estamos em paz por estarmos fazendo o que é correto. O que deve nos mover é a Consciência e não o Medo.

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