sexta-feira, 22 de abril de 2011

Boa Páscoa!

Ultimamente, abrimos mão dos bons momentos de reflexão, pois não temos "tempo a perder". E assim vamos levando a vida num atropelo constante, tendo a sensação de que o dia tem menos horas do que gostaríamos que tivesse. Assim acontece no Natal, na denominada Semana Santa e em outros "feriadões" que mais servem para as pessoas ficarem presas em engarrafamentos intermináveis ou mortas pelo caminho tamanha pressa de chegar a nenhum lugar.

A ideia agora é consumir e não refletir. Comemos e bebemos demais, mas não sentimos o gosto de nada. Tudo tem que ser prazeroso, caso sintamos diferente, somos levados a pensar que estamos deprimidos. Precisamos ser assaltados por tragédias coletivas (e até pessoais) para que tenhamos um momento, ao menos, de reflexão. Contudo, a nossa reflexão fica enevoada pelas impressões sensacionalistas da imprensa que apenas tem por objetivo vender mais e, por tabela, nos fazer consumir mais e pensar de menos.

A Páscoa é um momento interessante para a reflexão. Originalmente, a Páscoa é uma celebração judaica, a celebração da libertação do povo judeu. A Páscoa cristã também tem uma conotação de libertação, só que é a libertação da alma humana. É a possibilidade que temos de conquistar uma nova vida. Jesus não morreu para nos salvar. Ele viveu para nos mostrar que é possível melhorar sempre, que não há morte, pois somos seres espirituais. Contudo, Ele deixou claro em muitas passagens que não há salvação sem a nossa reforma íntima.

Precisamos ser pessoas melhores, mas não apenas no discurso. Precisamos exercer a máxima do Cristo: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei". Nada mais singelo e eficaz para alcançar a salvação. A seguir, compartilho um texto muito bonito que li. Uma boa Páscoa!

Poema que compromete
Lourenço Diaféria - 20/04/2011

“O Evangelho é um texto subversivo. Ele subverte o mundo na medida em que ousa outorgar à criatura humana – com suas fraquezas, seu orgulho, seu medo – a corresponsabilidade pela morte e ressurreição de todas as esperanças. Ou mais incrivelmente: da Esperança Total.

E todavia o Evangelho não é feito de frases de efeito. Nenhuma retórica. O Sermão da Montanha, patrimônio comum e síntese das aspirações que têm sido desfraldadas sob bandeiras as mais diversas, é de uma sobriedade e despojamento perfeitamente acabados e irretocáveis. No entanto, suas palavras não exigem mais de cinco minutos dos ouvintes.

O Evangelho trata de um homem de Nazaré. Nazaré: menos que um ponto imperceptível em um mundo conflagrado, onde as armas e as fortalezas e os conluios tinham o mesmo peso de sempre. Nazaré de uma época de sedições e de homens que pregavam no deserto. E que tinham a cabeça arrancada. Nazaré de um tempo em que os que tinham o poder de decisão submetiam-se a pressões ou exercitavam a pressão, julgando fazer política ao lavar as mãos. Mudou alguma coisa?

O Evangelho trata de um homem de vida curta, previstamente curta, que sabia do fim e do começo. Um homem que suava sangue diante da violência que se consumava, e aceitava o beijo, as fugas, a perplexidade e as dúvidas de seus amigos. E dava-lhes, contudo, a certeza de que nada seria em vão. Ele permaneceria, além do sofrimento e da morte. Acolhia as crianças, deixava que elas brincassem e atrapalhassem suas conversas. Pedia a uma mulher que lhe desse um copo d´água. Chorava e sorria. Para espanto dos teólogos e dos filósofos, preferiu que a verdade continuasse a ser uma pergunta a ser respondida por cada um – na medida em que cada um a busque com sinceridade. E não se lançou do pináculo do templo da tentação de definir o que está além e fora de todas as coisas e causas. Ensinou apenas que os homens se dirijam a Deus assim: Pai Nosso, o pão nosso dai-nos hoje. Subversão total. Não mais sarças ardentes, nada de trovões, nada de mares se abrindo. A humanidade inteira transformada em povo eleito.

O Evangelho é isto: a boa nova, o gesto, a descoberta. Um poema que compromete”.

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