sábado, 19 de junho de 2010

Enem, Cotas e Outras Anedotas

Manchete do Jornal “O Globo”, 29 de abril de 2009, quarta-feira: “Enem mostra a falência das escolas públicas nos estados”. A sinopse da notícia destaca que o fracasso das redes públicas estatais emerge dos resultados do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), isto é, de um ranking de mil escolas com piores notas, 965 são estaduais. Já entre as mil melhores, apenas 36 são estaduais, apesar do fato de as escolas estaduais concentrarem 85% dos estudantes do ensino médio. Detalhe importante: o MEC quer usar o resultado do Enem como substituto do vestibular. A notícia acrescenta que o setor privado domina a lista do Enem, tendo 905 estabelecimentos com notas mais altas. Avaliando os dados apresentados, o que é possível inferir? Numa palavra: Vergonha!

Vergonha de pagar altíssimos impostos e não ver nenhum retorno para o campo social. Vergonha de presenciar a falta de respeito dos administradores públicos com a Educação e com gerações de pessoas que estão sendo privadas de aprender a ler e escrever, de conhecer e decidir seus destinos com consciência. No entanto, essa vergonha nacional nos faz pensar em outra vergonha: nos defensores das chamadas “cotas raciais e/ou sociais”.

De acordo com o argumento desses “gênios da Sociologia”, os denominados afro-descendentes ou negros e os procedentes das classes pobres ou carentes não conseguem ter acesso às universidades públicas por sofrerem preconceito em decorrência de sua origem racial e/ou social. Simples assim: no Brasil, as pessoas não têm acesso ao ensino superior e não ascendem socialmente por não serem brancas e/ou ricas, ou seja, porque sofrem preconceito de raça e/ou cor e de classe.

Considero esse argumento umas das coisas mais toscas de todos os tempos. Difícil acreditar que alguém de fato acredite nessa falácia. Fico pensando: a quem interessa que essa idéia ridícula tenha tanta repercussão e força? Como defender uma idéia como essa? Será que os defensores dessa falácia não conseguem enxergar o caos em que se encontra a Educação brasileira e acreditam mesmo que as pessoas não chegam ao Ensino Superior porque o preconceito em relação à cor da pele ou classe social não permite? Será que não conseguem ou não querem entender? Se não querem entender, por que não querem? Quem lucra com tudo isso?

Para começo de conversa, já é uma piada a defesa da existência de raças. Cientificamente, tal conceito já foi abolido. Somos variações de um mesmo tema. Dessa forma, as diferenças de cor de pele e cabelos, formato do corpo e outros detalhes anatomofisiológicos são decorrentes das adaptações que diferentes populações sofreram (e continuam sofrendo) ao longo dos milhões de anos de existência no planeta Terra. Insistir nisso já virou obsessão para alguns grupos que se arvoram defensores de uma dita igualdade racial. Pergunto eu, como igualar criando segregação? Por que pré-vestibular para negros? Por que pré-vestibular para estudantes de escola pública? Por que não incentivar a melhoria da formação e a qualificação de todos os que precisam independentemente de serem “negros”ou “de escola pública”? Será que temos que viver criando guetos, segregando?

Minha formação acadêmica não foi realizada integralmente em escolas públicas, mas as escolas particulares onde estudei não eram grandes coisas. Tive que fazer pré-vestibular para ingressar em uma Universidade Pública, pois muitas coisas em Física, Química, Biologia e até mesmo Língua Portuguesa não me foram apresentadas ao longo de minha formação primária e ginasial (na minha época, ainda era chamado de primário e ginásio).

Não sou rica, não sou “branca” (finalmente, quem é “branco” no Brasil?), tive que ralar muito antes, durante e depois da faculdade. Morava longe da faculdade e era obrigada a pegar trem, ônibus e metrô. Uma vez que estudava à noite, tinha que sair antes do término do último tempo para conseguir pegar o último ônibus para casa, devido à distância. Fiz vários estágios, participei de grupos de pesquisa, escrevi artigos. Em nenhum momento, achei que estavam me fazendo algum favor por me deixarem estudar ali e participar daquelas atividades.

Achar que todos os que chegam à Universidade são brancos, pertencem às camadas privilegiadas e não têm preocupações é falar sobre o que não sabe. As pessoas não sobem na pirâmide social porque não são brancas e/ou ricas. As pessoas não sobem na vida é porque não receberam Educação suficiente e de qualidade. Será que alguém gostaria de ser operado por um analfabeto que entrou por cota na faculdade de Medicina ou por alguém que, por mérito, por ter recebido formação adequada, se formou em Medicina e sabe o que está fazendo? Alguém vai perguntar qual é a cor ou a origem social do profissional bem formado e qualificado? Acredito que não!

Não estou dizendo que no Brasil não haja preconceitos diversos. Imbecis, estúpidos e ignorantes existem em todo o planeta. Agora, achar que é com propostas demagógicas e hipócritas que vamos acabar com o preconceito, já é querer apagar incêndio com combustível. Acima de tudo, respeitar as diferenças é o que importa.

Em 16 de junho de 2010, foi aprovado o pretenso Estatuto da Igualdade Racial. A grita foi a retirada de itens que regulavam as cotas nos diversos setores da sociedade. Triste país. Não somos medidos pela competência, mas sim pela cor da pele, classe social, altura e outras aberrações que os supostos “defensores da igualdade racial”, “defensores dos prejudicados verticalmente”, “defensores dos calvos” querem empurrar goela abaixo do mundo.

Alguém aí se lembrar do vazamento das provas do ENEM ocorrido em 2009?

Nota: Estou acima do peso, será que não vão aparecer os “defensores dos que estão acima do peso” para criar uma cota para me beneficiar?

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